Agora sim...

Ao primeiro viajandão que me dirá maluco após essa frase, dedico este post.

Uma semana se passa, e se passam muitas coisas. O principal que se passa é o tempo, todavia, como o este está sempre a passar, parece que nem importa que ele tenha passado. Mas na verdade passou, e de 4 agora são apenas 3 semanas para ir-me embora.

O que eu era há 2 meses atrás? Um viajante. O que sou agora? Um mercenário. Será verdade? Talvez não, pois realmente há pessoas que gostam de andar de bicicletas, e talvez eu seja uma delas... ou talvez haja aqueles que gostem de sentir sono, pois só assim se pode sentir verdadeiramente acordado.

O fato é que a máquina do tempo existe, e se chama "Snooze". O famigerado botão que apaga o despertador por alguns minutos para aquela cochilada final. Viajei nessa máquina 2 vezes nesses últimos dias: antes de ontem e hoje, resultado: como sempre prós e contras:

pró - percebi que minha bicicleta realmente corre bastante.
contras - 2 atrasos feios no trabalho. No primeiro deles admiti o sono e pedi desculpas. No segundo, 2 dias após o primeiro, acordei 1 hora depois do horário em que devia começar a trabalhar, e então tive de ser um calhorda: inventei que o Charles tinha ficado preso em Tijuana e que tive de levar os documentos dele para que pudesse voltar aos EUA e por isso demorei para chegar. O melhor de tudo é que inacreditávelmente, todos acreditaram, apezar da enorme cara de sono com que cheguei ao restaurante.

Conheci finalmente alguns americanos pão duros. O pedicaber é sempre muito ligeiro ao definir seu preço. Nada de valores como 10, 15, 20. É sempre 11, 16 ou 21, pois nós nunca temos troco. Eis que pedi a um senhor que me pagasse 12 dólares para que levasse ele e sua namorada para um hotel que não se podia dizer "ali na esquina", e chegando lá, o indivíduo me deu 12, nem mais, nem menos.

Conheci um tipo de intelecto desenvolto. Um senhor americano, veterano de guerra, cujo filho está no iraque, que falou do sol, do céu azul, dos ministros, e então das guerras, do terror, e terminou por enunciar os segredos do universo.

Há um movimento novo na cidade - o das faxineiras. Estão em greve há mais de uma semana, e o movimento toma proporções catastróficas. Nenhuma delas trabalha, e o hotel tem mais de 200 quartos. Todos os dias elas se reúnem e protestam por cerca de 4 horas na porta do hotel. É melhor que alguém diga que talvez não estejam entendendo o que elas estão dizendo, pois as senhoras elevam suas vozes e cantam em espanhol.

O dia de hoje foi o mais movimentado no restaurante. Além de chegar 1:30 atrasado, acabei por ser colocado na maior secção do estabelecimento, e tive de tomar conta de 8 mesas simultaneamente. Resultado: conto depois, porquê agora lembrei de uma coisa que me parece mais importante. Se não está interessado, pule algumas linhas, que eu volto ao caso mais tarde.

Estou começando a pensar no que direi para sair do emprego. Estou levantando uma pesquisa: O que irá acontecer?

- fui oferecido um estágio na Google
- meu trancamento de matrícula foi revogado
- minha mãe quer desesperadamente que eu volte
- meu pai falou que me dá um carro caso eu volte

caso queiram opinar, bem, caso contrário, tanto faz. A minha decisão pouco tem a ver com os resultados dessa pesquisa, já que isso aqui não é um blog que se sobreponha à realidade. Sinto pena do senhor que me contratou. Além de mim há também 3 novos garçons. Todos eles são muito melhores que eu, mais experientes e confiantes. Cada manager contratou um, e o meu, além de contratar o pior, ainda escolheu o que viria sair mais cedo do emprego. Sinto muito por tê-lo enrolado, mas, ao vencedor as batatas.

Mas hoje, no horário de pico, estava com 20 pessoas comendo ao mesmo tempo, ou seja, pedidos errados, contas superfaturadas, "I'm sorry"'s e "I'm SO sorry"'s para todo lado e cerca de 50 dólares de pedidos renegados por enganos meus. O melhor é que não tomei muito esporro, pois disseram que a culpa foi do Floor Manager, por ter me deixado sozinho no meio da confusão.

Tenho sono. Tenho delírios de sono. Um enorme hipopótamo voador cai sobre o teclado, exatamente em cima da tecla ENTER.